quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O que somos, o que gostaríamos de ser e o que deveríamos ser


Há o que somos, o que gostaríamos de ser e o que deveríamos ser. Creio que o nível de harmonia na vida de uma pessoa está ligado ao seu nível de compreensão a respeito destas  três hipóteses. 

O que somos é o resultado, digamos, matemático, de fatores materiais e imateriais ocorridos desde antes do nosso nascimento. É a soma dos sofrimentos, a divisão de alegrias, a multiplicação de responsabilidade, a subtração de sonhos. “O homem é produto do meio”, diria Marx. Eu acho que é o produto não acabado de acontecimentos que freqüentemente fogem ao seu controle. Parecido, mas não a mesma coisa.

Por outro lado, o que gostaríamos de ser é algo muito importante, porque está ligado ao imaginário, ao sonho, combustível essencial para tornar a jornada sobre a terra algo suportável. Vivemos na expectativa de dias melhores, neste ou em outro mundo. Um grande problema de hoje é que , de maneira geral, os sonhos, o centro da idealização humana, estão  ligados ao dinheiro. E a Bíblia já dizia: “O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”. Assim, os sonhos das pessoas são cada vez mais fúteis e egoístas. Não sei dizer se o capitalismo fez isso ou havia uma pré-disposição humana para tal coisa.

De igual modo, creio que todos nós nascemos com a capacidade de realizar algo de forma única. Algo que seja útil para o semelhante, além de divertido e agradável para nós. Falo de talentos, de dons, seja lá como você queira chamar. Veja Neymar. Já pensou que desperdício seria aquele rapaz trabalhando de Office boy ou engenheiro? Felizmente ele é o cara certo no lugar certo. Um conjunto de fatores permitiu que Neymar fosse Neymar. E Ivete Sangalo? Poucas pessoas no Brasil são tão espontâneas e carismáticas. Em qualquer área que Ivete atua, o show é garantido. 

Acredito ser importante saber reconhecer o que somos no mundo, monitorar a qualidade e a relevância do que gostaríamos de ser e investir tempo e dedicação para descobrir o que deveríamos ser. A respeito deste último, tendo a consciência de que talvez nunca descubramos. Mas tentar não custa nada e você ainda pode descobrir muitas coisas legais pelo caminho. 

Meu perfil no Twitter: @asueli

terça-feira, 25 de outubro de 2011

VENDE-SE GAYS


Uma das coisas mais arcaicas, obsoletas e atrasadas nos dias de hoje é ser macho. Se você nunca usou uma camiseta com arco-íris, não defendeu a “causa” e acha que a coisa tem que ser homem com mulher e acabou, taí, você está fora de moda.

O mundo gay, o universo gay, invadiu as vidas dos brasileiros, como diria o velho Inácio: como nunca antes na história desse país. O Brasil está tão gay que até os heteros se vestem a maneira gay e se comportam a maneira gay. As bibas venceram e seu triunfo é comemorado com um show de plumas e paetês. 

Se você não concorda comigo, tente fazer uma piada com temática baitola numa roda de gente descolada, e verá que está totalmente out. Ligue a TV e verá propaganda cotidiana mostrando como é natural, como é belo, como é divertido ser homossexual. Preste atenção como as pessoas que não tem “nada contra” o homossexualismo são consideradas mais inteligentes. 

Sempre achei que todo ser humano merece ser tratado com dignidade. Ladrões, putas, bichas, crentes, muçulmanos, ricos e pobres. Todos merecem tratamento digno de ser humano, ainda que devam ser punidos por atos que causem danos de qualquer natureza a outros seres humanos, de acordo com as leis vigentes. Acho, porém, por demais estranho que a causa gay seja abraçada com tamanho entusiasmo e tenacidade. Você não pode discordar do homossexualismo, mas não vejo nada sendo dito em favor das mulheres que são exploradas como objetos sexuais, na propaganda de cerveja por exemplo. No mundo, uma em cada seis pessoas passa fome, mas não vejo ninguém querendo uma lei que obrigue os países a acabar com a miséria. Os índios foram exterminados nas Américas, os judeus foram exterminados mundo a fora, países da África vivem genocídios intermitentes e no Brasil os filhos dos pobres são empurrados pra marginalidade e depois mortos pela polícia ou outros bandidos, nas ruas ou na cadeia, mas isso pode.
De fato, nos tornamos tão fúteis que a nossa moral está baseada no lucro. Vender o “universo gay” dá lucro. Mulher seminua dá lucro, então, constrói-se um discurso cheio de “coerência” e travestido de boas intenções e depois é só usar a mídia e as escolas para divulgar. 

É por isso que acho tudo isso uma grande velhacaria. Até a defesa dos direitos humanos foi apropriada pela ganância e usada para vender  bandeiras coloridas e fashion.

Eu gostaria de ver um mundo em que as pessoas fossem respeitadas pelo fato de serem seres humanos, e não porque são gays. Eu gostaria de ver um mundo em que a maneira de pensar não fosse determinada pelos interesses de um grupo de pessoas gananciosas, que se locupleta à custa do trabalho e da boa fé de uma grande massa, composta por trabalhadores, heteros e gays que de igual forma se sustentam com suor do rosto.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Filhos do inferno

Você acompanha as notícias sobre assassinatos, tráfico de drogas, estupros, chacinas, roubo, vício em drogas, alcoolismo, violência gratuita, patricídio e matricídio e fica estupefato? Não sei porquê, pois o que está acontecendo hoje no Brasil era demasiado previsível. 

Cresci no interior da Paraíba, na cidade de Gado Bravo, que faz divisa com Barra de Santana, Umbuzeiro e Aroeiras. Juntando estes quatro municípios, tem-se um enorme território onde, nos anos 70 e 80, imperava a miséria, o absoluto descaso, o abandono do poder público. Uma região que, como tantos outros Sertões, dependia basicamente do irregular período de chuvas para uma trégua da fome, da humilhação e sede. Durante o período de estiagem, quem tinha algum gado ou outros animais, vendia boa parte para alimentar o rebanho que sobrava. Vendia a preços baixíssimos. Gado morria. Urubu fazia festa. Todo mundo ficava endividado. Por outro lado, quem não tinha animais nem terras passava fome mesmo. Um dia, fui almoçar na casa de um amigo e ele matou um pombo para refeição. O almoço foi pombo com feijão e farinha, pouco. Era o melhor que os pais dele podiam me oferecer. As poucas e distantes escolas que existiam recebiam poucas crianças, e 90% delas íam a procura da merenda, não aprendiam nada, não se divertiam, tinham rostos infelizes. 


Sem esperança, sem expectativa, os meninos esperavam ansiosamente completar 18 anos para "tirar os documentos e ir pa Son Palo ô pu Rii". Em São Paulo e no Rio, desciam do ônibus direto pra um canteiro de obras, onde moravam até conseguir encontrar um barraco numa favela. Foram nestas favelas que começaram a ser aliciados para o tráfico. O que esses jovens tinham a perder?

Muitos desses jovens praticavam ilicitudes esporadicamente, como um "extra". Outros mergulhavam de cabeça. Foi aí que nasceram sujeitos como Fernandinho Beira Mar. Não é só dinheiro. A gênesi do crime no Brasil tem um quê de revolta. Foi assim desde o cangaço. 

Seguindo esta geração vem o que chamo de "geração xuxa". Pesquisa recente em presídios do Rio Grande do Sul revelou que a maioria dos detentos foi criado só pela mãe. Criados é maneira de falar, porque na verdade essas mães, sozinhas, precisando trabalhar, jovens, querendo viver, abandonavam os filhos em frente a TV, que se encarregava de educar os meninos com o desenho Cavaleiros do Zodíaco e Pokemon. A violência criou uma geração violenta. A falta de afeto criou homens sem sentimentos, sem empatia, que matam por prazer. 

E agora, o que fazer? Os presídios estão lotados, são infernos e mesmo assim os crimonosos não o temem. Não temem o inferno porque suas vidas sempre foram um inferno. A polícia não consegue deter tal agressividade. Só a morte pode deter esses homens. Por isso os governos deixam que se matem e matam através da polícia. É uma limpeza. Nossos líderes criaram duas gerações para o crime e agora estão se livrando delas. Enquanto isso a TV continua faturando, com Datena e Samuca (no caso da Paraíba). De quem é a culpa? Isso não importa. Afinal, Cássio vai assumir o Senado, temos uma Copa em 2014. Temos um grande futuro.




quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Quando a lei vira lei

Matéria no programa de Ana Maria Braga mostrava um caso ocorrido em Natal, em que um cidadão assistindo TV reconheceu o responsável por um atropelamento como sendo o mesmo que atropelou e matou seu filho, há dois anos. O sujeito matou alguém e dois anos depois já estava repetindo a besteira, caso para causar indignação certo?

Até aí tudo bem. O que venho aqui contestar é a postura da TV Globo (no caso) a respeito do assunto. Ana Maria pôs no ar o pai e a mãe, segurando uma foto do rapaz morto. O pai demonstrava tristeza e indignação (claro) e pedia mudança na Lei. Ana Maria e o Lôro José se mostravam revoltados com o fato do atropelador estar solto e culpavam a Legislação por isso. Uma grande propaganda com objetivo de mudar a Legislação e tornar inafiançáveis os atropelamentos em que o motorista esteja alcoolizado. Até aí, uma causa nobre.

Ok. Sempre que falam em uma nova Lei ou mudança na Lei neste país eu fico arrepiado. E por um motivo simples: não damos conta das leis que temos, como queremos criar novas? No citado caso, Ana Maria não entendeu que a culpa do cara não estar preso não é da Legislação, mas sim da lentidão, leniência, burocracia, incopetência e falta de vontade de fazer cumprir a Lei.

Mas no Brasil é assim. Cria-se uma lei para fazer cumprir outra, e assim desenvolve-se um imbróglio maior ainda, gerando um emaranhado de problemas dos quais nunca saímos. Enquanto isso a TV, que precisa mostrar o tempo todo histórias de heróis, vilões e vítimas, locupleta-se em audiência ingênua, enche os bolsos, vilaniza uns, explora a desgraça de outros e ainda posa de herói (ou heroína, que aliás é um bom duplo sentido).

O cidadão brasileiro não percebe o quanto é enganado. Enganado quando acha que a Lei Maria da Penha resolve alguma coisa, que a "lei seca" resolve alguma coisa, que a "lei da ficha limpa" resolve alguma coisa. É tudo um engano, um engodo para que as pessoas simples achem que as autoridades estão fazendo algo pelo país quando não estão.

Não é por força de lei que se faz um país civilizado. É pela educação, é com seriedade e respeito pela cultura que representa o que somos enquanto povo, enquanto Nação. Não é prendendo alguém antes que este seja julgado e condenado que se resolverá o problema, privando assim um cidadão de seu direito, mas é julgando os casos com rapidez e eficiência que tiraremos os irresponsáveis do trânsito.

Se alguém tem interesse na diminuição dos acidentes por alcoolismo, que tal impor restrições a propaganda de cerveja? Taí uma boa maneira de usar a lei em favor do cidadão. Mas isso não vai acontecer, porque, afinal, a Skol desce redondo, a Nova Schin é um cervejããããoo e o brasileiro é brameiro.