sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Filhos do inferno

Você acompanha as notícias sobre assassinatos, tráfico de drogas, estupros, chacinas, roubo, vício em drogas, alcoolismo, violência gratuita, patricídio e matricídio e fica estupefato? Não sei porquê, pois o que está acontecendo hoje no Brasil era demasiado previsível. 

Cresci no interior da Paraíba, na cidade de Gado Bravo, que faz divisa com Barra de Santana, Umbuzeiro e Aroeiras. Juntando estes quatro municípios, tem-se um enorme território onde, nos anos 70 e 80, imperava a miséria, o absoluto descaso, o abandono do poder público. Uma região que, como tantos outros Sertões, dependia basicamente do irregular período de chuvas para uma trégua da fome, da humilhação e sede. Durante o período de estiagem, quem tinha algum gado ou outros animais, vendia boa parte para alimentar o rebanho que sobrava. Vendia a preços baixíssimos. Gado morria. Urubu fazia festa. Todo mundo ficava endividado. Por outro lado, quem não tinha animais nem terras passava fome mesmo. Um dia, fui almoçar na casa de um amigo e ele matou um pombo para refeição. O almoço foi pombo com feijão e farinha, pouco. Era o melhor que os pais dele podiam me oferecer. As poucas e distantes escolas que existiam recebiam poucas crianças, e 90% delas íam a procura da merenda, não aprendiam nada, não se divertiam, tinham rostos infelizes. 


Sem esperança, sem expectativa, os meninos esperavam ansiosamente completar 18 anos para "tirar os documentos e ir pa Son Palo ô pu Rii". Em São Paulo e no Rio, desciam do ônibus direto pra um canteiro de obras, onde moravam até conseguir encontrar um barraco numa favela. Foram nestas favelas que começaram a ser aliciados para o tráfico. O que esses jovens tinham a perder?

Muitos desses jovens praticavam ilicitudes esporadicamente, como um "extra". Outros mergulhavam de cabeça. Foi aí que nasceram sujeitos como Fernandinho Beira Mar. Não é só dinheiro. A gênesi do crime no Brasil tem um quê de revolta. Foi assim desde o cangaço. 

Seguindo esta geração vem o que chamo de "geração xuxa". Pesquisa recente em presídios do Rio Grande do Sul revelou que a maioria dos detentos foi criado só pela mãe. Criados é maneira de falar, porque na verdade essas mães, sozinhas, precisando trabalhar, jovens, querendo viver, abandonavam os filhos em frente a TV, que se encarregava de educar os meninos com o desenho Cavaleiros do Zodíaco e Pokemon. A violência criou uma geração violenta. A falta de afeto criou homens sem sentimentos, sem empatia, que matam por prazer. 

E agora, o que fazer? Os presídios estão lotados, são infernos e mesmo assim os crimonosos não o temem. Não temem o inferno porque suas vidas sempre foram um inferno. A polícia não consegue deter tal agressividade. Só a morte pode deter esses homens. Por isso os governos deixam que se matem e matam através da polícia. É uma limpeza. Nossos líderes criaram duas gerações para o crime e agora estão se livrando delas. Enquanto isso a TV continua faturando, com Datena e Samuca (no caso da Paraíba). De quem é a culpa? Isso não importa. Afinal, Cássio vai assumir o Senado, temos uma Copa em 2014. Temos um grande futuro.




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